'Estudos Filológicos Galego-Portugueses', resenha de Joám Manuel Araújo
É um livro importante na trajetória do Estraviz lexicógrafo, campo em que a sua produção porventura ofereceu, e ainda oferece, os melhores frutos
Segunda, 14 Novembro 2011 00:00

Joám Manuel Araújo - Em Maio de 1986, Isaac Alonso Estraviz participou como representante da Galiza nas reuniões, celebradas no Rio de Janeiro, com o intuito de aprovar um Acordo Ortográfico que ultrapassasse diferenças vigorantes na língua portuguesa comum.
Para além das sete nações em que, na altura, estava reconhecida como oficial (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe), a comunidade galega conseguiu ser convidada, mesmo intervir ativamente, graças às gestões de um pequeno grupo de pessoas, que promoveram e constituíram uma Comissão para a Integração da Língua da Galiza no Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro. Essa Comissão presidia-a Ernesto Guerra da Cal, intelectual de prestígio e autoridade em Portugal e no Brasil1 (e não só), que lhe permitiram influenciar entre as personalidades portuguesas e brasileiras que lideravam essa reunião do Rio de Janeiro para que a Galiza fosse aceite.
Em 1987 Estraviz publicou um livro, o primeiro de ensaios de um autor galego redigido nessa norma comum, que visava uma maior internacionalização da língua própria da comunidade galega. Nele reproduz (p. 80+4) a carta enviada por Ernesto da Cal ao académico brasileiro Antônio Houaiss, quem presidia aquela reunião multinacional e transcontinental, para indigitá-lo como o seu substituto, e publica informações e fotografias de aquele encontro do Rio.
Estraviz redige uma introdução, e diferencia cinco partes: “A Ortografia Galegoportuguesa”, “O Léxico Galegoportuguês”, “O Compromisso da Língua”, “Autores e Críticas”, e “Anedotário Linguístico”. Finaliza o volume com um “Epílogo. Sobre dicionários galegos e temas enleados. (Conversa –grafada– com Isaac Alonso Estraviz, diretor e autor do Dicionário da Língua Galega comum)”, de António Gil Hernández.
Estraviz esclarece e defende aí a sua posição. Combate argumentações contrárias de outros especialistas da Galiza. É um livro importante na trajetória do Estraviz lexicógrafo, campo em que a sua produção porventura ofereceu, e ainda oferece, os melhores frutos. Na leitura deste volume indicam-se os alicerces do seu trabalho em prol da normativização e da normalização da língua autóctone galega. Como ele próprio esclarece (pp. 14 e 15): “Fala-se aqui de ortografia, de léxico, dos compromissos dos galegos ante a sua língua […] Este livro vai na ortografia comum deste grande complexo cultural no que está imersa e que foi aceite por todos os representantes dos diferentes países reunidos em Rio de Janeiro do 6 ao 12 de maio de 1986, dentro de uma ímpar democracia e fraternidade. Uma ortografia apropriada ao mundo da informática e das relações internacionais, pois a nossa língua não tem fronteiras”.
Informações fornecidas neste livro ajudam a entender o processo seguido nas últimas décadas no que diz respeito à política linguística galega. É assim um volume que contribui para a memória histórica e que referencia dados, mesmo notícias da comunicação social, que não sempre é fácil conhecer, por não existir muita disponibilidade para se aproximar ao seu conteúdo. O volume tem igualmente o atrativo de estar redigido num estilo de fácil leitura, mesmo para pessoas não especialistas, mas interessadas na língua galega e na sua história num tempo tão decisivo como o período 1978-1986, em que foram redigidos os trabalhos incluídos neste valioso volume.
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