'Manifesto dos Economistas Aterrados', resenha de Manuel César Vila

«A posta em prática das medidas do manifesto mudaria a situação presente e, o que é mais importante, a vida de muitas pessoas a sofrerem-na»

Quinta, 08 Setembro 2011 06:23

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Manuel César Vila é tesoureiro da AGAL

PGL - Umha das mais recentes incorporações à loja Imperdível é o livro Manifesto dos Economistas Aterrados, em que os autores denunciam dez falsas evidências brandidas para justificar as atuais políticas na Europa. O tesoureiro da AGAL, Manuel César Vila, apresenta-nos esta obra.

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Manuel César Vila - O parágrafo de baixo foi tirado do Ladrões de Bicicletas, blogue dos co-autores do prefácio à edição portuguesa do Manifesto dos economistas aterrados. Crise e dívida na Europa. 10 falsas evidências. 22 medidas para sair do impasse. O romance do Luigi Bartolini e o filme do Vittorio de Sica, inspiradores do nome do blogue, mostravam uma realidade do capitalismo pós-guerra  (1946/1948) onde o pessoal tinha que roubar para trabalhar. Blogue, romance e filme bastariam para apresentar este manifesto francês de 2010, sem dar voltas ao miolo do escrevente.

O conhecido filantrocapitalista Warren Buffet afirmou há já algum tempo, com realismo que a luta de classes existia e que a sua classe a tinha ganho: num contexto de estagnação dos rendimentos das classes trabalhadoras, a percentagem de rendimentos captada pelos 1% mais ricos passou, nos EUA, de 8,95% do total, em 1978, para 20,95% em 2008 (semelhante a 1929). A taxa de IRS que incidia sobre o ultimo escalão de rendimento passou de mais de 70% nos anos sessenta, para 35% na atualidade e na melhor das hipóteses. Os resultados são os que se conhecem.

A vitória foi tal que Buffett vem agora pedir aos dirigentes políticos, em artigo no New York Times, que "parem de acarinhar os super-ricos.

Vamos focar-nos no blogue e no livro, convidando também a leitora desta resenha para ler o romance e visionar o filme, devendo-se deslocar a uma biblioteca pública ao não estarem desponibilizados na Imperdível.

O blogue é o nosso coração a bater-nos no peito. O livro um braço a tirar de nós do abismo. O manifesto dos quatro economistas franceses, assinado por mais outros seiscentos e trinta, reflete sobre as falácias instaladas na nossa sociedade e também sobre as soluções a muitos dos nossos problemas sem mudar de sistema. Isto é, dentro da União Europeia (UE) e da sua parcial união monetária (apenas 17 estados de 27), mas com importantes mudanças de fundo (há direito primário, tratados, que necessariamente devem ser mudados ou derrogados ainda que não se indique no próprio manifesto).

Neste verão de 2011 é bom lembrar Keynes, como fazem os co-autores do prefácio «Para lá da economia austeritária» desde a citação inicial: «As ideias dos economistas e dos filósofos políticos, sejam elas certas ou erradas, têm um alcance mais poderoso do que habitualmente se pensa. De facto, o mundo é governado por elas, e pouco mais». A realidade esmaga e as ideias que levaram à mesma continuam a triunfar nos altifalantes mais poderosos. Keynes escrevia o itálico no trecho final da sua Teoria geral do emprego, do juro e da moeda publicada em 1936.

A atual UE provém da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA, Tratado de Paris, 1951), da Comunidade Económica Europeia e da Comunidade Europeia da Energia Atómica (Tratado de Roma, 1957). Os seis estados fundadores recém saídos da II Guerra Mundial (Bélgica, Holanda, Luxemburgo, República Federal da Alemanha, França e Itália) estavam governados por formações de direita ou no melhor dos casos, de centro-direita (conservadores, liberais, democratas-cristãos...). Aceitar qualquer uma das medidas propostas no manifesto assemelha um bocado impossível, nestes tempos. São medidas que não destroem o statu quo estabelecido, mas a sua posta em prática mudaria a situação presente e, o que é mais importante, a vida de muitas pessoas a sofrer esta situação.

Nestas estamos, e por isso é fundamental ler este manifesto. Voltando ao princípio desta resenha e lembrando outro grande economista, Karl Marx, com certeza, nunca pensou escrever para pessoal como o Warren Buffett&Co., mas se calhar trata-se de um bom começo saber que a luta de classes está na moda para os super-ricos.

Manuel César Vila, Santiago de Compostela. Tesoureiro da AGAL. Licenciado em Ciências Económicas (secçom Económicas) e em Administraçom e Direçom de Empresas, e Diploma de Estudos Avançados em Economia, todos pola USC. Professor de Administraçom de empresas no Liceu Macias o Namorado de Padrom. Na atualidade, faz parte do Conselho Federal da CIG-Ensino e da sua Executiva na comarca de Compostela.

 

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