Entrevista a Xoán Carlos Miranda, dono da loja "m!randa - cultura para levar": «A Galiza sempre foi umha potência musical, há criatividade, há ideias e, o que é mui importante, há um público»
«As pessoas venhem à m!randa nom apenas para comprar um disco ou um livro, mas com calma, a falar, beber um café e encontrar-se com outras pessoas interessadas no mesmo tipo de cultura, ou mesmo com os/as artistas que passam por aqui com freqüência»
Sexta, 21 Fevereiro 2014 00:00

PGL- m!randa - cultura para levar, localizada em plena parte antiga da cidade de Compostela, na confluência das ruas Trás Salomé e Nova, acaba de cumprir um ano de vida e está centrada sobretudo na difusom e venda de suportes culturais com especial protagonismo para a música, o cinema e os livros.
"m!randa, cultura para levar" leva um ano aberta. Que nos oferece esta loja?
Oferece umha selecçom de produtos culturais (discos, filmes, livros...) sempre em formato físico. Refiro-me, no caso da música a CD's, Vinil e DVD's musicais; a Blu-Ray e DVD no caso dos filmes, e livros e banda desenhada no caso da literatura, com atençom especial ao livro infantil e ao relacionado com a música e o cinema.
E, ao mesmo tempo, é um espaço de convívio e relacionamento arredor deles. É um ponto de encontro. De fato, esta é umha das questons mais interessantes das que têm acontecido este ano. As pessoas venhem à m!randa nom apenas a comprar um disco ou um livro, mas venhem com calma, a falar, beber um café e encontrar-se com outras pessoas interessadas no mesmo tipo de cultura, ou mesmo com os/as artistas que passam por aqui com freqüência.
Como responde a gente diante desta oferta?
Por enquanto, a acolhida tem sido excelente. Cada dia aparecem pessoas novas pola porta que nom conheciam a loja, que a encontram por casualidade e, sobretudo, pessoas que venhem por indicaçom de clientes que se tornaram já em habituais.
Costumo falar muito com as pessoas que venhem e quando pergunto, quase sempre a recepçom ao espaço e à oferta é mui boa. Bem polo espaço em si, bem porque encontram cousas que nom conseguem noutros lugares.
Nos tempos que correm, que vantagens tem umha loja local e pequena frente às grandes cadeias de venda física (tipo FNAC) ou através de internet (Amazon) ou mesmo à descarga digital?
A grande vantagem é, claramente, o conhecimento personalizado e individualizado de cada cliente, o trato direto, a capacidade para dar dicas sobre cada produto em funçom da relaçom que estabeleces com cada cliente.
Afinal, cada compra é umha experiência que, no caso da loja física, se estabelece de pessoa a pessoa, nom apenas porque um algoritmo sugira a tua próxima compra. As pessoas que venhem pola m!randa valorizam muito a troca de impressons, ou descobrir um disco por acaso, porque outra pessoa está a ouvir ou a comentar nesse momento.
Confiam também no critério e na experiência de quem está a atender a loja. A m!randa oferece a possibilidade de encomendar, mas isso nom significa que as pessoas encomendem um disco, um livro ou um filme concreto. Muitas vezes dizem «sugere tu», «pede algo deste tipo», etc. Neste sentido, as pessoas valorizam o esforço por encontrar mesmo aqueles produtos que aparentemente som mais inacessíveis. O que a m!randa fai é facilitar a compra de produtos que estám dispersos, que a gente nom quer ter que procurar espiolhando a rede. Contatamos com as distribuidoras, diretamente com os/as artistas, o que for para encontrar ediçons estranhas, produtos descatalogados, etc.
Além disto, eu acredito em que valorizamos mais e tiramos mais partido daqueles produtos que consumimos em formato físico. Quantas vezes descarregamos discos ou filmes que acabam por ficar sem ver no disco rígido?
Quando compras um produto físico, este ocupa um lugar na tua casa, tem um valor, e estás disposto a desfrutá-lo com calma, atençom e durante muito tempo. Polo menos, isso é assim para mim, como fam dos produtos que vendo na loja.
Porque pensas que os grandes êxitos deste ano som fundamentalmente galegos (Caxade, Sés, A Nena e o Grilo...)?
Nom podo falar por outros lugares, porque imagino que o que se vende aqui nom é necessariamente o mesmo que vendem as grandes superfícies. Em qualquer caso, também acho que o que se vende na Galiza tampouco é necessariamente o que mais publicitam os meios de comunicaçom.
Em qualquer caso, esses grandes êxitos de que falas relacionam-se diretamente com a aposta que m!randa fai pola música galega. O objetivo é tornar acessíveis para toda a gente artistas e bandas galegas seja qual for o género musical; converter-se num ponto de referência para quem procurar música feita na Galiza.
Por outro lado hai umha demanda mui forte por parte da gente por música e cultura galega em geral, por referentes próximos, artistas com quem te podas identificar, que nom som necessariamente os/as que escutamos na radio-fórmula ou nos meios de massas. Galiza sempre foi umha potência musical: há criatividade, há ideias e, o que é mui importante, há um público. A carência de umha indústria é suprida com entusiasmo tanto por parte das pessoas que estám a criar como por parte do público. É claro que há vontade por se encontrarem.
É também importante que as pessoas, por afeto, identificaçom ou vizinhança, som menos partidárias de descarregar o disco de alguém local. Quando se trata de cultura local, tenhem vontade de contribuir.
Estiveste a trabalhar muito tempo na histórica loja de discos Gong, como foi a experiência? Que semelhanças e diferenças encontras com este novo projeto?
A experiência em Gong foi mui positiva; fôrom quase 15 anos de aprendizagem, de conhecer artistas, clientes. Com Gong conhecim também a boa época da indústria e a sua decadência, que a levou a encerrar. Umha cadeia como Gong acabou engasgada numha excessiva dependência e identificaçom com as grandes multinacionais.