Eduardo S. Maragoto: «Às vezes,mesmo pessoas mui próximas de nós, fam-me perguntas superestranhas sobre o reintegracionismo»
«Como muitos reintegracionistas, quando leio um texto noutra normativa, costumo pensar: “isto poderia melhorar-se aqui ou ali”»
Quarta, 29 Janeiro 2014 00:00

PGL- Com o título Como ser reintegracionista sen que a familia saiba, Eduardo S. Maragoto queria fazer um manual de língua provocador e atirar a atençom sobre os referentes de qualidade da nossa língua, mas com estas 30 leccións moi prácticas para aproximar o teu galego do portugués e non desobedecer a normativa oficial, o autor conseguiu um bocado de polémica nos dous lados da norma.
O que foi primeiro, o título ou o livro?
O primeiro foi o título, ao qual achei muita graça e dixem: “É preciso completá-lo com texto”. Deu muitas voltas, que se nom se entendia bem, que se seria melhor lusista ou reintegrata, que se seria melhor que acabasse sem que os amigos saibam.
E porque ficou como ficou?
O de que os amigos saibam metia umha marca de género que era completamente desnecessária e nom resolvia a dúvida que podia provocar a família. Aliás, sendo um título provocador, com um subtítulo mais provocador ainda (30 leccións moi prácticas para aproximar o teu galego do portugués e non desobedecer a normativa oficial), é evidente que o que eu estava a procurar é que as pessoas ficassem, primeiro, chocadas, e que só depois de o folhearem se apercebessem do conteúdo. Quanto a lusista ou reitegracionista, perguntei a muitíssimas pessoas e todas se inclinárom por reintegracionista. Eu continuo a pensar que era melhor lusista, mais brincalhom, porque produz perplexidade e ao mesmo tempo grande curiosidade em quem nom é, a mesma que tinha a sociedade há uns anos quando ouvia a palavra marica na boca de um homossexual. Mas afinal aceitei o parecer maioritário. Já agora, houvo quem opinasse que teria sido melhor que no título aparecesse a palavra galego em vez de reintegracionista ou lusista. Parece ser que, em termos de vendas, um detalhe desses é relevante, mas dessa forma o título perdia a funcionalidade com que tinha sido concebido: gerar debate no seio doutras posturas gráficas e ilustrar quanto à conveniência de ter o português como modelo de referência, quer escrevamos com quer com .
Quando leio um texto noutra normativa, costumo pensar: “isto poderia melhorar-se aqui ou ali”
Houve situações reais que te levassem a pensar que um livro assim era necessário?
Diariamente. Como muitos reintegracionistas, quando leio um texto noutra normativa, costumo pensar: “isto poderia melhorar-se aqui ou ali”. Entom, por um lado chegamos à conclusom de que na nossa postura nom temos as carências dos nossos adversários, porque possuímos um modelo estável que nos dá soluçom para praticamente todo. Mas por outro ficamos preocupados com a deriva do galego, que é negativa para o conjunto da comunidade lingüística. Quando corrigia o Novas da Galiza, reparava que a maior parte dos erros que corrigia, os mais frequentes na sintaxe, podiam ter sido corrigidos também na normativa oficial. É pena que os utentes dessa normativa nom o saibam, porque para o reintegracionismo é fundamental gerar um consenso no seio de todas as posturas gráficas em torno da necessidade ou conveniência de ter o português como modelo. Acho que esse clima consensual vai progredindo, mas mui pouco a pouco e nós devemos empurrar com toda a força que pudermos.
Achas que há muitas pessoas reintegracionistas no armário?
Assim categorizadas, há poucas, porque os números do reintegracionismo som baixos: é um movimento pequeno. Ora bem, sendo pequeno, tem enorme influência, porque conta com ativistas mui comprometidos em muitos ámbitos. Porém, o reintegracionismo tem algo muito mais importante: gera cada vez mais simpatia no ambiente cultural galeguista, depois de anos em que gerou muita antipatia. As pessoas nom dizem “agora sou reintegracionista”, mas podem dizer “nom me parece mal isto que proponhem no reintegracionismo”. Eu prefiro ganhar muitas pessoas deste segundo tipo e nom poucas do primeiro, porque nós nom vamos ganhar por acumulaçom de militantes. Seremos hegemónicos quando as nossas propostas sejam compreendidas e valorizadas positivamente polo conjunto da sociedade galega, sobretodo por aquelas pessoas que nunca se tornariam sócias de nengum coletivo reintegrata. O livro está dirigido a essas pessoas que já nos vam compreendendo, mas que nom dariam o passo. Embora melhorássemos muito nisso, continuamos a dirigir quase toda a nossa produçom para a gente da casa.
E quais pensas que são os principais medos, dúvidas... que fazem difícil dar o passo?
Em primeiro lugar, o desconhecimento. Às vezes, muitas pessoas, mesmo as mui próximas de nós, fam-me perguntas superestranhas sobre o reintegracionismo. Pensam cousas como que nós queremos falar na rua “à portuguesa”, tal e qual ensino eu o português nas aulas. E entom eu penso: “Caramba, se eu tivesse essa dúvida, nom seria reintegracionista nem que me pagassem”. O segundo medo tem a ver com a norma reintegrada, com o facto de ser a mais marcada politicamente na sociedade, porque há pessoas às quais, legitimamente, nom apetece andar-se a posicionar desta ou doutra maneira. Querem levar umha vida mais normal, ou simplesmente preferem dedicar os seus esforços a outros ativismos, tam importantes como o futuro das línguas. Depois, entre quem já é reintegrata platónico, há quem tenha dúvidas mais técnicas e medo a “fazer o ridículo”, e nisto o reintegracionismo tem algo de culpa, porque nom soubo comunicar que cometer erros lingüísticos é o mais normal do mundo (o anormal, mesmo terrorífico, seria nom cometê-los) e ainda por cima, por agora, nom tem fornecido na Internet suficientes recursos para aprender. Acho que a atual direçom da Agal pretende corrigir isto com um portal formativo.
O próprio título do livro deixa ver que se trata de umha
clandestinidade transitória, como todas as clandestinidades
Algum conselho para o seguinte passo; é dizer, para confessar à família?
O mais fácil é dizer “que estamos a estudar português, que nunca se sabe agora com a crise, o Mundial, as Olimpíadas, que temos que praticar só um aninho ou dous e que depois havemos de voltar à grafia normal”. Isso é infalível, toda a gente pica e até ficam a duvidar: “Será que estou a perder algo?” Dali a uns dias encontra-los a matricular-se na Escola de Línguas e dim-che: “Pois nada, que estivem a pensar nisso do português e a verdade é que...”.
Temos ouvido algumas críticas por vir este livro de um reintegracionista confesso e comprometido como tu... Que o distingue da postura de Freixeiro Mato?
Este livro nom tem postura própria. Nom propom um modelo de escrita entre a isolacionista e a lusista. Parte desta última para dar conselhos à outra, para que na outra consigam detectar onde estám a escorregar para o castelhano e que podem fazer para o evitar. O mais fácil para isso, e nesse sentido o livro envia umha mensagem, é usar o português como modelo, mas a maioria das pessoas que escrevem em oficial nom dominam esse modelo e nom conseguiriam fazer os equilíbrios necessários para, aproximando-se do português, respeitarem a sua normativa. Eu digo-lhes: “Vamos passar à clandestinidade”, usando a normativa oficial, mas melhorando-a num sentido lusitanizante. O próprio título do livro deixa ver que se trata de umha clandestinidade transitória, como todas as clandestinidades.
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