José António Souto salienta no Conservatório Profissional de Música de Compostela o interesse e valor de Martim Codax, no centenário da descoberta da música das suas cantigas

"O interesse deste excepcional testemunho da lírica galego-portuguesa medieval nom está nos textos, já conhecidos anteriormente, mais na música que os acompanha", afirma Souto

Segunda, 10 Fevereiro 2014 00:00

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PGL - O Conservatório Profissional de Música de Santiago comemorou, na quarta-feira passada, com um concerto de especialistas em música medieval, e com uma conferência do professor doutor José António Souto Cabo (da Universidade de Santiago de Compostela, um reconhecido medievalista com prestígio internacional polos seus estudos respeitantes à língua e á literatura desse tempo) o centenário da descoberta do Pergaminho Vindel, difundido em 1914, que contém as sete cantigas medievais de Martim Codax e música de seis delas.

"O interesse deste excepcional testemunho da lírica galego-portuguesa medieval nom está nos textos, já conhecidos anteriormente, mais na música que os acompanha", afirma Souto. O professor da USC esclareceu como no ano em que estamos, 2014, e, concretamente neste mês de fevereiro, cumprem-se cem anos desde que, na revista Arte Español, aparecia um artigo intitulado "Las siete canciones de enamorada, poema musical por Martin Codax, juglar del siglo XIII". Esse breve trabalho, assinado por D. L. D’ Orvenipe, pseudonimo que utilizava Pedro Vindel, comerciante de livros antigos, informava sobre a localizaçom de uma folha de pergaminho com as sete cantigas do jogral Martim Codax.

(PW) Entre outros aspetos, o artigo contém reproduçom facsimilar de dous poemas e acaba sublinhando o enorme interesse que, do ponto de vista musical, possui aquel achado (PW). Um ano mais tarde, em 1915, Vindel publicará o livrinho Las siete canciones de amor, poema musical del siglo XII (Madrid: Sucesora de M. Minuesa de los Rios), 32 pp. que inclui 9 fotogravuras com a reproduçom íntegra do manuscrito. Vindel localizou o pergaminho como parte da encadernaçom dum exemplar (o livro de filosofia De Officiiis de Cícero, publicaçom do séc. XIV) encadernado no séc. XVIIII. Após diversas vicissitudes, o pergaminho acabou sendo adquirido pola Pierpont Morgan Library de Nova Iorque, onde se conserva. Todo leva a pensar que se trata daquilo que se conhece como "folha volante", para ser utilizada isoladamente na execuçom poético-musical dos texto ali reproduzidos, e nom dum fólio dum cancioneiro, datável do último terço do séc. XIII (PW).

Acrescenta Souto Cabo que (PW) Junto com o conhecido como Pergaminho Sharrer, que contém cantigas de amor do rei D. Dinis, é portanto uma das duas amostras musicais da lírica profana galego-portuguesa; para além da religiosa, onde salientou o valor das Cantigas de Santa Maria . Isto é assi, manifesta, porque os restantes manuscritos carecem de anotaçom musical. "Com efeito, o Cancioneiro da Ajuda, o único elaborado no período medieval dos conservados, é um códice inacabado que carece, entre outros aspetos – decoraçom letras capitais-, de notaçom musical, cuja integraçom estava prevista, segundo se depreende do espaço livre que foi deixado por baixo dos textos. Aliás, as cantigas de Martim Codax nom figuram nesse cancioneiro, que só contém cantigas de amor. Os outros dous cancioneiros V (Biblioteca do Vaticano) e B (Biblioteca Nacional de Lisboa), copiados em Itália na primeira metade do séc. XVI já nom reproduzem a notaçom musical, talvez por ser ininteligivel", assinala Souto.

O pergaminho Vindel, segundo destaca este prestigioso medievalista, contém o texto das sete cantigas de amigo daquel jogral de Vigo e seis delas aparecem também acompanhadas da indicaçom musical, que falta no caso da número 6. "É, portanto, o único exemplo de música referida à cantiga de amigo. A descoberta do pergaminho em questom, como sublinhava hai alguns anos o pesquisador português Manuel Pedro Ferreira, veu-nos lembrar que a letra das cantigas, como o próprio nome indica, foi concebida como ‘canto’, com as importantes consequências que disso derivam para a composiçom poética. A este musicólogo português devemos ulguns dos estudos mais serios sobre ‘a dimensom musical da lírica galego-portuguesa’. Entre as conclusons do mesmo, devemos salientar, por exemplo, a similitude que se observa com as cantigas de Santa Maria", acrescenta Souto Cabo.

A respeito da pessoa de Martim Codax, di que "nom temos dados históricos sobre Martim Codax, já que o seu nome nom foi localizado na documentaçom; nom obstante, podemos deduzir alguns aspetos da sua biografia de modo indireto a partir das suas cantigas e do lugar que ocupa nos cancioneiros. Assi, todo leva a pensar que foi natural da ria de Vigo (na altura uma pequena vila) e que viveu no segundo terço do século XIII, segundo apontam alguns investigadores, entre ca. 1240-ca. 1280. Quanto à sua condiçom sócio-poética, estamos perante o que se denomina ‘jogral’, isto é um compositor que, do ponto de vista da rígida estratificaçom social da Idade Média, nom pertencia à camada nobre ou aristocracia. Nom podemos descartar que se trate de um clérigo ligado à enigmática igreja de Vigo a que se alude nas suas cantigas.

A sua obra aparece, nos cancioneiros da lírica galego-portuguesa, associada à doutros jograis tudenses (da diocese de Tui), com cantigas de tipologia e temática similar, como o famoso Mendinho (ilha de S. Simom, Redondela), Joám de Cangas (Santuário de S. Mamede, Cangas do Morrazo), Golparro (Tui) e Martim de Ginzo (Ponte Areas). Na altura em que Martim Codax compujo sua produçom (ca. 1270) o movimento poético conhecido como lirica trovadoresca galego-portuguesa contava provavelmente, quase, com um século de existência. Por outro lado, nesse momento histórico, segunda metade do séc. XIII, essa moda poética era cultivada nom só na Galiza, mas também, sobretodo, em Portugal e, em menor medida, nos reinos de Leom e Castela. Precisamente, entre as cidades mais claramente vinculadas a esse movimento, devemos salientar a importáncia de Santiago de Compostela. Vários trabalhos publicados nos últimos anos vinhérom a oferecer importantes novidades". Na conferência proferida no Conservatório Profissional de Música de Santiago, Souto Cabo relembrou alguns dados sobre esse importante fenómeno poetico-musical.

O concerto

A conferência de Souto Cabo foi acertadamente complementada com um concerto, em que actuaram professores do Conservatório Profissional de Música de Santiago e membros do grupo Martim Codax, especialistas em música medieval. Eles foram, segundo o programa distribuido polo próprio centro educativo, Ana Sánchez e Aida López (canto), Andrés Díaz (flauta de bisel), Miguel López Fariña e Roberto Santamarina (viola de arco), Valentín Novio (cítola) e Tom Risco (percusión).

Interpretárom quatro das cantigas de Martim Codax, as intituladas «Mandad'hei comigo», «Ai Deus, se sab'ora meu amigo», «Mia irmana fremosa, treides comigo» e «Quantas sabedes amar amigo».

Souto Cabo agradeceu o convite que recebeu de Isabel Rei, docente do quadro professoral do Conservatório Profissional de Compostela, para participar nesta tam interessante atividade comemorativa, e defende que este centenário seja aproveitado para um melhor conhecimento da tam interessante Literatura Medieval Galego-Portuguesa.

 

Cartaz do evento

Programa de mão