Exposição sobre Valentim Paz-Andrade. Uma antena galega no Brasil
Os escritos e atividades do protagonista são chaves fundamentais para entender aspetos fulcrais da Galiza do século XXI
Segunda, 21 Janeiro 2013 00:00

PGL - A Casa Guilherme de Almeida de São Paulo acolheu até o passado mês de dezembro uma exposição sobre a vida do intelectual galego Valentim Paz-Andrade (1898-1987), organizada em colaboração com o Conselho de Cultura Galega e elaborada pela empresa galega Faz Cultura.
A significação deste jornalista, advogado, político, ensaísta, poeta e especialista em economia pesqueira como ponto de encontro entre a Galiza e a Lusofonia foi um tema central que embebeu cada um dos apartados desta exposição, a qual foi abordada desde os três eixos fundamentais de sua intervenção na cultura e na economia galegas: a tradição, a mediação e a inovação. Segundo os autores, os seus escritos e atividades nos diferentes campos de que participou são chaves fundamentais para entender a história da Galiza do século XX em termos políticos, culturais e económicos.
O percurso da sua vida começa com os seus inícios como redator-chefe no jornal Galicia, no qual mostra especial interesse pelos assuntos acontecidos no país luso, chegando a incorporar a um correspondente estável em Lisboa. A seguir, envolve-se na política como galeguista e republicano durante a década dos 30, em que chegou a ser candidato a deputado. Porém, a ditadura fez que essa sua faceta política não fosse recuperada até década dos 70, primeiro como representante da Galiza na Comissão Negociadora da Oposição Democrática e depois como senador. Durante a década dos 50, dedica-se ao exercício da advocacia e intensifica o seu estudo sobre o desenvolvimento da economia pesqueira. Em esses anos leciona numerosos cursos internacionais como assessor da FAO, o que faz medrar o seu prestígio como especialista em economia do setor pesqueiro. Um dos seus maiores sucessos em este âmbito foi como promotor de uma das empresas galegas de maior importância comercial, a Pescanova.
O fascínio de Paz-Andrade pelo Brasil, o “Paraíso prometido” como ele mesmo denomina, começa com a sua primeira visita à cidade de São Paulo em 1950. Nas suas viagens pelo país fez contacto com a produção literária brasileira e com seus autores. Assim é que reforça, na sua mente, a ideia de conceber a lusofonia como uma oportunidade cultural e identitária, mas também económica. Na sua obra Galicia como tarea (1959), Paz-Andrade aposta em uma utilização mais prática da língua e a cultura, entendendo-as como recursos, desde a unicidade do património galego-luso-brasileiro.
Além do mais, a exposição destacou sua reivindicação dos brasileiros Guimarães Rosa e Guilherme de Almeida como autores que valorizam a literatura galega. No estudo A Galecidade na obra de Guimarães Rosa (1978), apresentado na Real Academia Galega e na Academia Brasileira das Letras, o autor intervém no campo brasileiro como elemento crítico próprio, defendendo o arcaísmo léxico do autor do Sertão por ser este ainda usado na fala da Galiza. Destaca-se também a amizade com Guilherme Almeida, quem mesmo prefaciou o seu livro de poemas Sementeira do Vento (1968). Esta escolha surgiu, como ele mesmo reconheceu, pela necessidade de provocar a troca literária entre dois países da mesma comunidade linguística.