O que é isso de República Galega?
Quinta, 08 Agosto 2013 14:35
Henrique Pérez Lijó (*) - Precisamente agora, quando os alicerces políticos sociais e culturais que sustiveram o Ocidente do way of life se desmoronam, e a situaçom achega alarmantes crónicas sobre a inviabilidade do bem-estar social no sul europeu, há quem retorne ás propostas republicanas para suster estas ruínas.
O problema é que estas fórmulas nom fam mais que perpetuar os mesmos arquétipos políticos que caracterizaram a modernidade, e partem dos mesmos paradigmas liberais que deram origem aos primeiros estados. Se entendermos o capitalismo como umha hierarquia de ideias de que fam parte conceitos fundamentais como estado, autoridade, patriarcado ou mesmo república, semelha absurdo dizer-se anticapitalista ao tempo que se acredita na constituiçom de umha outra estrutura patriarcal, configurada através de umha república e que responde um por um aos mesmos princípios dos quais emanou a democracia liberal.
Mudá-lo tudo para que tudo continue na mesma. Esta parece ser a legenda de moda no nacionalismo galego, abocado a constituir um novo horizonte sem fugir do acabado parlamentarismo em qualquer das suas formas, e obviando as relaçons de dependência que os estados criam sobre a sua populaçom. Se calhar é por esta depêndencia que hoje há quem se negue a imaginar fórmulas de base, comunitárias e populares para gerir os recursos desta terra, hasteando sobre o seu pavilhom a bandeira do possibilismo, e berrando aos quatro ventos que xs galegxs somos órfaos de pai porque carecemos um Estado que defenda os nossos interesses. Acaso nom é esta umha proclama patriarcal?
E é que é umha evidência que a classe média do Estado Espanhol se desmorona. O estamento (fundamentado sobre todo em aspetos subjetivos) que servira de estrato onde cultivar o pacifismo social destas últimas décadas, expulsa dos seus espaços cada vez mais famílias, que se somaram ao carro a golpe de crédito bancário ou hipotecário.
Nom é um facto futil, pois a democracia espanhola, os consensos da Transiçom, a paz entre classes que vivemos até há bem pouco, sustentava-se no incremento sistemático de esta nova categoria social, causa e à vez efeito do estatismo político de finais do séc. XX e começos do XXI.
Mas o desmantelamento desta “classe” abandona trás de si o gosto pola dependência do Estado e do Mercado que noutros tempos a povoaçom injuriava. Hoje nom sabemos comer se nom é aquilo que manda o mercado, nom sabemos divertir-nos se nom é como estipula o modelo do consumismo, em definitiva nom sabemos intrepretar a realidade que nos rodeia se nom é através dos valores em que foi socializada esta “classe média” e que agora topamos em franca decadência. Por isto mesmo é que gram parte da esquerda galega que se diz anticapitalista, nom é quem de imaginar um futuro que nom atenda a retomar estes mesmos valores de consenso, materializados em forma de República e que partilham com forças políticas às quais elxs mesmxs categorizam de sistémicas e espanholas.
Ser revolucionário nom é fácil, ao contrário, acarreta escolher sempre o caminho mais complexo e revirado, e sobretodo, nom avonda com se rebelar contra um modelo economicida que oferece hoje os seus derradeiros alentos antes de ser reformulado. Ademais disto é preciso rachar coa estrutura de ideias que mantém a povoaçom atada á necessidade de um Estado mercantilista e opressor, e que tem o seu exemplo mais evidente na obrigaçom do trabalho assalariado coma única garantia de vida, coma condiçom “sine qua non” a adscriçom á sociedade nom é possível. É preciso romper com a meritocracia que envolve a cultura de masas contemporânea e que nos impede a todxs ser livres e iguais. Há muitas décadas que o capitalismo deixou de ser unicamente um regime económico para topar umha forma de perpetuaçom por meio da açom colectiva e individual do corpus social, logrando esvaecer através do tempo os laços associativos e comunitários que ligavam o nosso País a partir da sua propria base, asegurando a pervivência deste povo com a autogestom como aspeto comum.
Se as nossas olhadas para o futuro nom passam por nos questionarmos o que o capitalismo tem de sustrato cultural, enraizado na psique da cidadania, o único que estaremos a fazer é um imenso favor a aquelxs que buscam perpetuar os modelos de produçom e reproduçom capitalista, aínda que for com um novo rosto.
(*) Henrique Pérez Lijó é estudante de Sociologia da UDC e ativista social da Corunha. Tem participado em processos como o CS Atreu!, as jornadas A_Cultura_Preo(k)upa, a Casa das Atochas, Proxecto Zero, CSO Palavea, e mais recentemente a plataforma UdCemLuita.