Xesús Alonso Montero: «A divisom na RAG foi por umha questom moral, prévia a todo o demais»
Primeira parte da entrevista publicada no n.º 126 do Novas da Galiza · Amanhá, publicaçom da segunda entrega
Quarta, 19 Junho 2013 07:29

Xesús Alonso Montero | Foto: Arquivo da RAG
PGL - No número passado, o 126, o Novas da Galiza publicou umha entrevista ao novo presidente da RAG, Xesús Alonso Montero, em que o filólogo era questionado em relaçom à posiçom que a nova direçom da Academia tomará em relaçom ao reintegracionismo. O Portal Galego da Língua publica agora a conversa completa que o ilustre escritor mantivo por espaço de quase umha hora com o redator do jornal Eduardo Maragoto. Na entrevista, realizada a 2 de maio, doze dias antes da aprovaçom da tomada em consideraçom da ILP Valentim Paz Andrade no Parlamento da Galiza, som abordadas muitas críticas que o movimento lusista dirige à centenária instituiçom, sem que o entrevistado fuja de dar resposta a nengumha delas com o tom afável que o caracteriza.
1ª parte: ILP Valentim Paz Andrade, os progressos do reintegracionismo, as polémicas da RAG e a mudança de normativa
Eduardo Maragoto - A RAG nom dá conseguido tirar o pé da poça. Às acusaçons de nepotismo para a anterior diretiva e à imagem de divisom, tam mediática como incompreendida pola sociedade, seguírom-se declaraçons do novo presidente, Xesús Alonso Montero, discrepando das normas ortográficas que promove a centenária instituiçom ou criticando o protecionismo com a língua praticado polo BNG. O Novas quijo saber se por detrás de tanta polémica existem verdadeiros projetos lingüísticos e culturais em debate e fomos conversar com Alonso Montero à rua Tabernas. Recebeu-nos com a sólida cordialidade que o caracteriza e isto foi o que nos explicou.
ILP Valentim Paz-Andrade
Em entrevista ao Novas da Galiza de 2008, o ex-presidente Xosé Ramón Barreiro temia que a introduçom do português no ensino fosse um submarino para atacar o galego. Em poucos dias vai ser debatida no Parlamento umha ILP que vai ao encontro dessa ideia. Continua a pensar, como o seu predecessor, que se trata de um submarino?
Eu nom sou reintegracionista, é um direito que tenho, e a esta pergunta vou responder como Xesús Alonso Montero, nom como presidente da RAG, porque é um tema que me ultrapassa. No primeiro plenário da RAG em que pudermos, podendo ser já o que se fai em meados de junho, eu quero tratar este assunto, porque me parece um tema relevante, sobre o qual nom conheço sequer, ainda que poda intuí-la, a opiniom dos restantes membros da diretiva. De maneira que isto seria a primeira conquista desta entrevista. Quanto a mim, eu estou a favor, como galego e como cidadao da Filologia galega, de que um coletivo de cidadaos reclamem, através do seu parlamento, umha certa presença de português no ensino. Eu estou a favor disso, mas ao dizer “umha certa presença” nom estou a comprometer a minha opiniom, porque nom teria que ser em todos os centros de ensino; deveriam ser peritos e a seguir os próprios parlamentares os que decidissem quanta presença e de que tipo, porque senom seríamos insensíveis como galegos e como filólogos a algo que está aí. Ora bem, também é certo que esta iniciativa popular foi ideada polo reintegracionismo. Os desenhadores dessa proposta pensam que a presença do português no ensino médio vai favorecer a sua causa e eu creio que é verdade, portanto eu preferiria que essa proposta chegasse ao Parlamento de pessoas que nom tenhem a ver com o reintegracionismo.
Os progressos do reintegracionismo
A ILP [Valentim Paz Andrade] foi apoiada por 17.000 pessoas. Tem a sensaçom de que o reintegracionismo progrediu na última década?
Ainda que nom goze das minhas simpatias, como pessoa dedicada integramente à Filologia, seria um desdém nom estar atento a um fenómeno lingüístico que está aí, porque antes de emitir um signo de simpatia ou antipatia por umha cousa, deve conhecer-se essa cousa. Ora bem, nom conto com dados precisos para afirmar que vaia a mais ou a menos esse movimento. Eu creio que mais ou menos está onde estava.
Nom compartilho essa sensaçom, polo menos entre a juventude, nomeadamente aquela que fai parte do movimento normalizador. No último ano, por exemplo, alguns escritores conhecidos, como Teresa Moure, Séchu Sende e Vítor Baqueiro, abandonárom a normativa oficial para reconhecerem publicamente...
Conheço o caso de Teresa Moure e Vítor Baqueiro, que figérom declaraçons nesse sentido contemporáneas ao conflito da RAG. Nom sei se é umha casualidade ou umha causalidade, mas no tempo coincidem. Bem, eu continuo a pensar o mesmo que há anos, e tenho umha fórmula para responder, porque já mo perguntárom antes outros entrevistadores. O galego há que fazê-lo a partir dos dialetos e socioletos do galego que se fala a norte do Minho, nom do galego que se fala a sul do Minho, com o qual estou-lhe a dar um dado histórico-filológico ao reintegracionismo: o que se fala ao sul do Minho é um dialeto do galego, mas é um dialeto egrégio, nobiliário, que a partir do século XV se emancipou muito e ademais tivo grandes vozes, começando por Camões e terminando por muitas outras, como Antero de Quental e Óscar Lopes, que acaba de morrer, o eminente marxista, umha das mentes marxistas mais importantes da Europa, e da Filologia talvez a mais importante. Sabia que morrera Óscar Lopes?
Sabia, sim. Era sócio de honra da Associaçom Galega da Língua (AGAL).
Os homens mais eminentes... como dizia Horácio: “Homero de vez em quando dorme”. Entom, parece que aconteceu o mesmo a Óscar Lopes. Voltando ao tema; trata-se, ademais, da tradiçom literária; estamos precisamente homenageando um livro publicado em Vigo há 150 anos. Nesta tradiçom literária formárom-se todos, inclusive aqueles que algumas vezes se aproximárom do reintegracionismo quando ainda nom se chamava assim: chamava-se lusismo, lusitanismo, etc.
Homem, eu também sei que depois vinhérom grandes vozes, umha de Portugal, Rodrigues Lapa, e outra da Galiza, Guerra da Cal. Porém, Guerra da Cal era um galego extramuros. Eu tratei muito Guerra da Cal por telefone e epistolarmente, mas Guerra da Cal chegou a dizer que nom queria vir à Galiza porque a Galiza nom estava na direçom que ele queria... “Pois venha aqui e endireite-a!” Guerra da Cal era um homem mui inteligente e um grande poeta, um escritor extraordinário. Em castelhano, as cartas que escreveu a Blanco Amor som antológicas. Entom, eu admiro muito a inteligência e muitas cousas de Guerra da Cal, mas Guerra vivia extramuros da Galiza e portanto pensava lingüisticamente, nom sociolingüisticamente.
O próprio Rodrigues Lapa, que era um sábio, se tivesse responsabilidades aqui, políticas e académicas, pensaria muito antes de entrar naquela polémica com Ramom Pinheiro, porque se agora oferecêssemos textos segundo o critério reintegracionista nas aulas, nas centenas e centenas de aulas onde está o futuro do galego, o futuro da economia da Galiza, o futuro do socialismo na Galiza, que é o que mais me interessa, à parte da reaçom dos alunos, teríamos a reaçom dos pais, dos vizinhos, da sociedade... e o problema é que hoje o galego ainda suscita muitas reticências, quando nom hostilidade, em determinados setores da sociedade... Quando se lhes ofereça como alternativa isso que eles vam chamar o português... apaga e vamo-nos, acabou-se! Nesse dia desapareceu o conflito lingüístico na Galiza; em poucos anos, como umha maré assovalhante, o castelhano ocuparia o mapa da Galiza. Há esperança enquanto se oferecer à sociedade galega (sem excluir o castelhano, cuidado!), o galego de raiz galega. O dia em que se oferecer um galego de raiz nom galega, repito a expressom: apaga e vamo-nos!
As polémicas da RAG
Vou-lhe ler umhas palavras de umha pessoa que apoiou a sua candidatura a presidente da Real Academia Galega: Ramón Villares. Di o seguinte numa entrevista que concedeu na seqüência das homenagens que recebeu Valentim Paz Andrade.
“Tomamos unha decisión no seu día que hai que asumir pero tamén hai que revisar. A decisión foi estandarizar a lingua con máis aproximación á lingua falada [precisamente o que acabou de dizer o senhor Montero], que ten a súa lóxica, e facer unha estratexia sobre o galego como idioma independente que o separou máis do que xa o estaba do mundo luso-brasileiro. [Continua a refletir sobre isto durante umhas linhas e afinal conclui:] Pero que iso fose así non quere dicir que non sexa revisábel e teñamos que facelo. Quizais esteamos agora no momento de reconsideralo.”
Estas declaraçons fijo-as um mês antes de tornar-se pública a divisom dentro da RAG. Nom sei se há conflito de opinions em relaçom a isto dentro da Academia; em qualquer caso, Ramón Villares parece-me umha daquelas pessoas a que fazia referência, com critério galego e responsabilidades académicas, fazendo apesar disso umhas declaraçons com um sentido mui claro.
Bem, ele apoiou a candidatura que eu liderava, é certo, mas Andrés Torres Queiruga apoiou-me por ser ateu? Suponho que nom. Ramón Villares apoiou-me por ser militante do Partido Comunista? Nom. Na candidatura que eu liderava somos pessoas mui diferentes em cousas bastante essenciais. Um jornalista dizia, referindo-se a Torres Queiruga e a mim: “o teólogo e o ateu”.
Quer dizer que esta polémica está à margem das duas candidaturas.
Sim, outra polémica suscitada na Academia deu lugar a estas duas candidaturas.
Tal como a divisom foi apresentada polos meios de comunicaçom, nós, as pessoas preocupadas pola cultura galega, podemos pensar que a divisom na RAG tem mais a ver com intrigas pessoais que com debates culturais profundos sobre o futuro do galego. O filho de tal ou o genro de qual...
Parece-me bastante importante. Intriga nengumha. É umha questom moral, prévia a todo o demais.
Mas a Real Academia Galega recebe fundos públicos e talvez nom seja este o debate fundamental que deve haver entre os académicos, que afinal é o que transparece através dos meios.
Vamos ver, a Academia tem umha postura sobre o idioma expressa nas Normas. Estas, na última revisom, fôrom realizadas olhando minimamente para Lisboa, porque lhe foi tirado o <c> a ‘produto’.
As mudanças na norma da RAG
Neste debate [o relacionado com a Norma de 2003], para a sociedade galega, Portugal nom existiu. Pensa-se que a decisom foi adotada por motivos exclusivamente técnicos, mas as pessoas desconhecem que essas modificaçons se derivam de umha tensom entre posturas reintegracionistas e nom reintegracionistas. Porque nom há sinceridade nisto?
É que eu creio que na RAG, desde que eu estou nela, nom há umha voz reintegracionista. Nom há um sector importante reintegracionista, nem sequer minimamente reintegracionista. Portanto, quando se delibera sobre estas questons, eu creio que o que se impom, digamos, é a voz galeguista, nom a voz lusista. O mapa da Academia é este; som os académicos que há. Em relaçom ao que di você de que nom foi explicado à sociedade galega, houvo muita pressom de fora, o qual está bem. Por exemplo, quando nós decidimos quem vai ser a personalidade literária do próximo 17 de maio, neste caso do ano de 2014, quem decide som os académicos, mas nós sabemos que na sociedade há opinions: por exemplo, venhem cartas de entidades de Val d’Eorras solicitando esse dia para Florencio Delgado Gurriarán, ou venhem cartas de Ferrol solicitando para Carvalho Calero.
Eu creio que nós nom necessitamos essa informaçom nem essa pressom, mas se existe, é bom que conheçamos. Pode haver um setor mui importante da sociedade que prefere, para o ano de 2014, tal escritor, e poderá sair ou nom depois das nossas deliberaçons, mas queira-se ou nom isso está a influir sobre nós. Na altura de que falávamos houvo muita pressom para que fossem mudadas as normas e as normas nom fôrom mudadas na direçom galeguista senom na direçom lusista, minimamente. Ferro Ruibal e eu, que somos dos mais galeguistas da Academia, nom votamos a favor disso, mas acatamos. Que havia que explicar à sociedade? Bem, a sociedade tem aí as normas e já sabe que agora dicionário escreve-se com um só <c> e produto sem <c> antes de <p>. É umha desgraça nos institutos, eu bem o sei, porque na outra aula, a de castelhano, tenhem que escrever dicionário com dous cês e bom, isso é nom conhecer o mapa escolar. Entom aqui temos deliberaçons sobre isso, mas o problema recente foi umha questom moral, de contrataçom... e umha questom moral é prévia a todo, eh?... porque se umha cultura renuncia aos postulados morais e cívicos, apaga e vamo-nos!
Você nom tem umha contradiçom quando di que a principal funçom da Academia é elaborar e preservar umha normativa e ao mesmo tempo, nas primeiras declaraçons que fijo como presidente, a atacou publicamente.
O quê? A Academia?
Nom, a normativa atual...
Nom, eu digo que a acato.
Dixo que a acatava, mas criticando-a publicamente.
Sim, mas também tenho que acatar a monarquia e publicamente, quando podo e quando me deixam, ataco-a. Tampouco gosto do sistema da circulaçom que há porque eu creio que haveria que confluir com o sistema do Reino Unido e circular pola esquerda (e nom o digo por marxista, senom porque creio que é mais racional), mas acato, porque senom esnafro-me. Figem umhas declaraçons críticas, mas nom está na minha mao, está nas maos do plenário e a normativa nom vai ser tocada. Ora bem, eu gosto da normativa? Da que há nom gosto muito, gostava mais da anterior, que defendim, e tenho direito a dizer estas cousas. Porém, agora escrevo dicionário com um só <c> e se sei que alguém anda a escrever mal por aí, chamo-lhe a atençom. Como se fosse um presidente do governo, tenho que fazer cumprir a lei...
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