Miguel Portas: “A austeridade é o problema, nom a soluçom”
Miguel Portas era eurodeputado polo Bloco de Esquerda (BE) e cofundador desta organizaçom
Segunda, 30 Abril 2012 08:38

Miguel Portas
PGL - Na passada terça-feira, 24 de abril, morria Miguel Portas, eurodeputado pelo Bloco de Esquerda. Uma das últimas entrevistas que deu foi a um meio galego, o Novas da Galiza. A entrevista saía na edição do mês passado do jornal soberanista e nela, além doutros assuntos, também fijo referência ao tema do galego-português no parlamento europeu.
Recuperamos agora essa entrevista que também pode ser lida tal e como foi publicada originariamente polo Novas da Galiza descarregando o PDF do número 112 do jornal já disponível na net.
E. MARAGOTO / Miguel Portas é eurodeputado polo Bloco de Esquerda (BE), do qual foi cofundador em 1999. Até as últimas eleiçons, em que reduziu pola metade a sua representaçom, a progressom do BE fora espetacular, chegando a ultrapassar o sempre potente Partido Comunista Português (PCP). Agora, em plena situaçom de emergência nacional e com só 8 assentos numha Assembleia da República com maioria absoluta da direita, lidera a voz dos que acham que está na hora de acometer umha profunda renovaçom no partido, que se deveria 'adaptar aos novos tempos' afastando da direçom os dirigentes fundadores, ele incluído, e redefinindo a política de alianças.
Tornou-se famoso na Europa quando quijo cortar nas despesas dos eurodeputados, com a oposiçom dos partidos que hegemonizam o discurso da austeridade. Há algo de verdade na necessidade da austeridade em tempos de crise?
A austeridade é o problema, nom a soluçom. A única vantagem que traz é a da diminuiçom das importaçons, porque se comprime o consumo das famílias, e em conseqüência a balança de transaçons correntes melhora. Mas este lado nom compensa, longe disso, os aspetos negativos que a austeridade impom à economia. Nom se trata apenas de mais recessom e mais desemprego, a par de cortes nas despesas sociais e no investimento. A austeridade é a máquina através da qual se opera a transferência de rendimentos do trabalho para o capital, agravando as desigualdades sociais.
Um hipotético governo do BE, só ou em coligaçom com o PCP, seria compatível com a permanência de Portugal na UE?
Estamos muito longe de um governo do BE. Também umha soluçom apenas com o PCP é estreita. A transformaçom de umha maioria social anti-austeridade numha maioria política polo emprego implica, no mínimo, que a luita social tenha tido força para separar o PS ou parte dele, da política que assinou com a troika. Mas, em termos genéricos, a sua pergunta tem resposta: sim, é possível aplicar umha política de esquerda mantendo o país na UE. Esta possibilidade depende, contodo, do apoio popular a essa nova política; e também da construçom de alianças na UE para alteraçons de substáncia na política monetária.
Os protestos na Grécia tenhem gerado situaçons de violência nas ruas desde o primeiro resgate. Portugal caminha para o segundo resgate, mas a situaçom nas ruas, apesar do êxito de certas mobilizaçons, está longe de parecer-se com a grega... Resignaçom?
Nom se trata de resignaçom. Na sociedade portuguesa, medo e indignaçom coexistem na cabeça de cada um, em doses variáveis. Estou convencido de que a vontade de justiça irá superar o medo e que, em conseqüência, a disponibilidade para a luita aumente. Mesmo na Grécia, de onde desapareceu o medo, nom há só capacidade de revolta. Há também umha imensa desilusom e descrença com o sistema político e com aqueles que teriam a obrigaçom de encontrar as respostas.
Passos Coelho ganhou amplamente e o BE perdeu metade dos deputados das anteriores legislativas. Qual é a “adaptaçom aos novos tempos” de que precisa o Bloco de Esquerda?
Quando se luita nem sempre se ganha e nem sempre se acerta. Foi o caso. É deste reconhecimento que partimos. Iguais nas convicçons, mas com humildade e vontade unitária na construçom das convergências sociais e políticas que devolvam a esperança às pessoas.
A crise também atingiu o Bloco Nacionalista Galego e outros partidos da esquerda parlamentar europeia... A soluçom será parecida?
Na Europa, as forças de esquerda estám marcadas polo selo de umha derrota histórica e pola vitória provisória das políticas neoliberais. Elas procuram reencontrar-se com os seus povos para darem expressom política às suas expetativas. Fazem-no acertando e errando. Nom opino em público sobre as escolhas de partidos amigos, mas dou imensa importáncia às suas experiências.
Com um irmao dirigente do PP [Paulo Portas é ministro com Passos Coelho], é difícil acreditar que o confronto partidário seja mais umha manifestaçom da luita de classes... Afinal, será verdade que existe umha classe política?
Ocasionalmente, trocamos impressons. Ambos fazemos 'política a tempo inteiro' e desse ponto de vista, pertencemos ao que se convencionou chamar de 'classe política'. A diferença? Pensamos de modo diferente, já se vê.
No Parlamento Europeu, o BNG usa o português para, de facto, usar o galego... Isto desperta simpatia nos partidos portugueses? No BE, desperta seguramente. Nos outros... vou perguntar e depois digo-vos.
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