Luís Cília: «Cumpre inventar novas formas de intervençom»

Cantor de intervençom português, é o autor do hino comunista ‘Avante Camarada!’

Terça, 24 Janeiro 2012 00:00

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Raimundo Serantes (*) - Luís Cília é daqueles cantores de intervençom que nom confiou a sua arte exclusivamente às musas. Formou-se musicalmente, desde o início da sua carreira, no exílio francês, do qual regressou com o 25 de abril, e a esse facto deve a sua atual dedicaçom profissional: a composiçom musical para dança, cinema e teatro.

Há muitos anos que deixou a interpretaçom e o seu nome é menos conhecido que algumhas das suas produçons, como certos hinos que fam parte da história coletiva do último terço do século XX português: ‘Avante Camarada!’, ‘O Povo Unido Jamais será Vencido’…

Raimundo Serantes: Sabia que há mais de umha década que certo bar compostelano fecha as suas portas diariamente com a música do Avante Camarada! a soar. Gostaria de visitá-lo? Seria umha visita ao seu passado ou ao futuro?

Luís Cília: Claro que seria umha visita ao meu passado, que nom renego. Um abraço aos donos do bar, pola sua paciência.

RS: Na maioria dos casos, a música de intervençom fai parte, hoje em dia, das discotecas caseiras de pessoas ilustradas, mas já nom movem as massas como o faziam noutra altura… Há demasiadas cousas a estimular as massas ou será que esta nom soubo acompanhar os tempos em termos artísticos?

LC: Algumhas massas já nom se movem devido à aculturaçom a que fôrom sujeitas ao longo dos últimos 30 anos. E os indignados nom som massas?

RS: O Zeca Afonso privilegiou muito as suas relaçons com artistas da Galiza, e até é lembrado como umha exceçom dentre os músicos de intervençom portugueses nesse sentido, mas longe disso. De facto, o Luís Cília foi o primeiro a passar a raia, nom foi?

LC: Penso que sim. Mas o Zeca Afonso desenvolveu um grande movimento de uniom com os artistas galegos. E houvo outros: Fausto, Vitorino, Júlio Pereira…

RS: Em 71 cantou em Compostela, o mesmo ano em que foi proibido um recital seu na Corunha. Voltou a cantar na Galiza desde entom? Continuou a manter o contacto com músicos galegos como Miro Casavella finalizado o franquismo?

LC: Voltei, com muito prazer, em 76. Tenho umha recordaçom fantástica do recital de 71. Na Galiza havia um movimento muito interessante com as Vozes Ceives: o Miro, Benedito, Moscoso… Esse espetáculo de 1971 foi dado por mim e polo Miro, em santiago. Nesse ano também realizamos vários espetáculos em várias cidades de Espanha. O de Santiago foi memorável (polo menos para mim). Porém, antes de 1974, infelizmente, nom houvo grande aproximaçom dos portugueses com a Galiza. Problemas culturais, penso.

RS: Tivo bastante contacto com cantores de intervençom do Estado espanhol… que posiçom ideológica e artística representavam os galegos entre eles?

LC: Guardo um grande amigo e 'irmão': Paco Ibáñez. E também o Pi de la Serra, Llach, Maria del Mar Bonet. Nunca me preocupei em saber a posiçom ideológica dos artistas espanhóis, desde que fossem de esquerda!

RS: Chegou o momento de outro 25 de Abril? Quero dizer, chegou o momento de arranjar as cousas mudando as cousas ou esse experimento já foi provado e nom dá resultado? Que diria aos líderes da esquerda portuguesa para enfrentarem a atual situaçom?

LC: A água de um rio nom passa duas vezes debaixo da mesma ponte. Hoje tenhem de se inventar novas formas de intervençom social. Quanto aos lideres da esquerda portuguesa, gostaria que fossem mesmo de esquerda!

 


(*) Artigo originalmente publicado no nº 108 do Novas da Galiza (novembro-dezembro de 2011 )

 

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