Olhando a cena musical: sem recursos para luitar contra a indústria espanhola

Artistas criticam a falta de avanços na construçom de um espaço próprio

Quarta, 07 Setembro 2011 06:57

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A. R. G. / X. R. S. (*) - Juntamos numha cafetaria da zona velha compostelana dous membros de conhecidas bandas do panorama musical galego e um ex-componente de um grupo mítico dos últimos 90's.

Gente que leva décadas a tocar, o tempo que lhe deixa o resto da vida, e gente que há nada tirou o primeiro disco. Todos três debatendo sobre a cena musical galega, os reptos a que se enfrenta e os possíveis caminhos polos que seguir. Apresentamos um resumo de umha longa conversa que o NOVAS organizou junto com Komunikando.net. O vídeo do debate poderá ser visto em breve (*) na rede, graças à colaboraçom de Galiza Contrainfo.

Perfis dos artistas que participárom na conversa
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NOVAS DA GALIZA: Comecemos fazendo umha perspetiva da cena musical galega.

Miguel Mosqueira: Primeiro, ao meu ver, haveria que reduzir o campo aos grupos que cantam em galego ou, em todo o caso, diferenciar: Tony lomba e Elio dos Santos para mim som mais galegos que Iván Ferreiro. Para além disto, penso que de cinco anos para aqui há mais grupos e mais géneros, se calhar polas facilidades que deu o Governo anterior no que diz respeito a difusom, às ajudas e à distribuiçom. Mas agora desaparecêrom, e as bandas ficárom perplexas, ainda que acho que muitas continuam a funcionar, de modo autogestionado. No futuro penso que se vai enriquecer a cena.

Martin Wu: Eu acho que estamos mais ou menos como sempre. Quiçá sim houvo um momento em que parecia que havia muitos grupos e muitos estilos, mas agora estamos todos como com os ánimos baixos, quase igual que quando eu comecei: com os mesmos problemas, os mesmos sítios onde tocar e, por desgraça, a mesma gente nos concertos, mas com as entradas mais caras. Aliás, acho que nom há um relevo geracional suficiente.

Davide S. Outeiro: No que diz respeito à música galega, concordo com o Miguel em diferenciá-la de “galegos que fam música”. Igual que na escrita ou no audiovisual, aqui o importante é nom desvincular a música do resto das artes, já que assi nom temos umha visom global do problema: que a nossa língua é ameaçada. Há quem tem interesses por ir desarticulando este povo nos seus valores comunais. É certo que com o Bipartido se começara a gerar meios e canais para passar da resistência e chegar ao público, mas a gente optou por nom apoiar essas políticas. É importante achar umha linha de fuga que nos permita sortear o bloco estático da indústria cultural espanhola na Galiza. Há quem está optando por ir diretamente para lusofonia.

Martin Wu: “Temos
os problemas de
sempre, e a mesma
gente nos concertos”

M.M.: Ao melhor isto ajuda a ser otimistas: se um compara a música galega com a literatura ou o teatro, vê que estas duas, ainda que tenham pouco público -cousa que nom é devida a que estejam em galego, senom que nom som géneros de massas-, estám mais reconhecidas institucional e socialmente. A literatura em galego, que era algo totalmente marginal, foi-se prestigiando. Mas a tradiçom musical em galego é mui recente: até os 80 nom existia pop nem rock em galego. Na Galiza temos que ir construindo essa tradiçom, e saber que os discos que estamos a fazer agora, que se calhar nom tenhem muita repercussom, talvez se convertam dentro de uns anos em tijolos da construçom dessa tradiçom musical.

NGZ: Que há dumha possível “indústria cultural galega”?

M.W.: No folk há gente que, mais ou menos, pode viver da sua música. No que se refere ao pop ou ao rock, nom. Nom há nem selos, nem distribuidoras, e as poucas tentativas que houvo de criá-los, fôrom abaixo. A cousa está difícil: nom se vendem discos, e nós voltamos auto-editar-nos, cousa que tampouco está tam mal, porque che permite fazer o que che dê a gana e cair tu só, se é preciso. No que se refere ao nosso, para mim nom existe nengumha indústria. Nós vamos ensaiar quando saímos do trabalho, editamos quando podemos, e tiramos discos quando juntamos o dinheiro: isto é algo que se fai com muito voluntarismo. Eu nom sei viver de outra maneira. O ideal seria poder trabalhar na música, e nom dedicar-me a isto como meu pai se dedica ao ciclismo, mas agora é impossível.

D.S.O.: Eu volto ao mesmo: nom há interesse em que haja uma indústria nem em que este país esteja normalizado culturalmente. Este caminho conduz a que fique gente fazendo cultura histórica, e nom cultura viva. Enquanto os políticos nom tenham vontade de proteger isto, de subvencioná-lo, estamos a competir em desigualdade com o mundo espanhol.

M.M.: Por ser um pouco mais otimista, penso que, ainda que os condicionantes som contra -as instituiçons públicas e privadas, os meios, as salas ou os managera populaçom pode ser permeável a referentes que cantem em galego. Quando eu estava no instituto, passaram-me umhas cintas d'Os Resentidos -naquela altura, ano 1998, nom se falava quase deles-, e foi-me criando, consciente ou inconscientemente, um desejo de imitaçom. Nos últimos anos há muitos grupos de rap que cantam em galego, suponho que em parte polo facto de aparecerem em finais de 90's grupos como Non Residentz ou Ghamberros. E na Barbança os Heredeiros tivérom praticamente mais influência que os Rolling Stones!

D.S.O.: Mas continuamos a estar numha situaçom de resistência. Há referentes, mas continua sem haver um grupo galego que encha Balaídos ou Riazor. Continua sem haver quem programe música galega na rádio e na TV, continua sem haver selos que apostem grupos, apresentaçons e distribuiçom como está mandado, e continua sem haver umha aposta do ente público e privado por gerar relevo. Queiramos ou nom, estamos numha economia capitalista. Agora mesmo, a música em galego continua a estar no underground. Há resistência, sobretodo graças à internet, mas isto ajuda a um auto-consumo de uns poucos consciencializados. Queremos entrar no mundo das discográficas e da indústria cultural? Queremos continuar a trabalhar no underground e fortalecê-lo? Criar redes mais sólidas onde a gente poida trabalhar sem a angústia de fazê-lo para umha multinacional? Para mim está claro que este é o melhor caminho.

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NGZ: Quais som as carências de infraestrutura mais importantes?

D.S.O.: O mundo do trabalho musical mudou radicalmente, acabou-se o tema de necessitar um super estúdio, um produtor ou instrumentos espetaculares, porque agora qualquer pessoa pode gravar um disco na sua própria casa. Continua a faltar a distribuiçom e a promoçom.

M.W.: Nom é tanto procurar um local de ensaio, porque sempre o hás encontrar, ainda que seja difícil; e hoje em dia qualquer guitarra, até as mais baratas, afinam -o que nom passava quando começamos a tocar-; e nom há que pagar um dinheiral para gravar um disco. O problema é, umha vez que já tés um disco, e queres tocar por aí, como fazer-te visível? Num momento em que, provavelmente haja mais grupos dos que havia antes. Sobretodo, o que há é muita mais pressom da indústria sobre a rapazada, e isto deixa completamente à margem grupos mais pequenos, ou outro tipo de grupos. A uniformidade no que tem a ver com a música pop é muito maior agora do que era antes. Antes, no meu instituto havia até algum gótico: agora todos, ou quase todos, som de Rihanna, ou do que toque. O difícil é, daquela, chegar além, umha vez que tés a tua cançom.

M. Mosqueira: “Tirar um
disco nom é o complicado:
o que se procura
é promoçom”

M.M.: O que se demanda sobretodo é promoçom, e esta tem que vir de umha agência ou estrutura que saiba manejar-se nesse terreno. Porque senom envias umha nota de imprensa em que contas que tiras um disco e sai em dous meios de 40. E sendo invisível, nom te vam escolher para tocar em parte nengumha. Mas também nom se pode aspirar a encher Balaídos -poucos grupos encheriam Balaídos- e a grande indústria é algo que também nom nos deve interessar. Há que ter em conta que a indústria que nom é ultra-underground, que é algo alternativa, também nom move umhas cifras escandalosas. O caso é criar umha pequena indústria, que chegue a esse público, que chegue para encher festivais como o Vigo Transforma ou o de Ordes.

NGZ: Neste sentido, a Rede pode ser vista como umha plataforma real para a promoçom dos grupos, ou o que realmente continua a fazer falta é o dinheiro?

M.W.: Eu acho que, com todas as facilidades de que falávamos, a música independente terminou por se converter no mainstream de hoje em dia, e apesar disso, reduziu o campo. Se queres sair nas revistas indie de referência, tés que pagar o anúncio, e ao final estamos nas mesmas. Eu acho que com todas as possibilidades que tés de encontrar muitos grupos, sem mover umha vírgula do estilo que tu gostas, há muita mais uniformidade.

D. S. Outeiro: “Estamos
como há 20 anos,
num papel de resistência”

D.S.O: Os grupos pequenos som invisibilizados para que nom cheguem à sociedade, que está a ser nutrida de outros contidos que estám em essa lavadora que nom cessa que é o mercado capitalista. Esta é a realidade contra a que há que lutar. As fórmulas da rede fôrom umha revoluçom total, de meio, e as tuas cançons pode ouvi-las agora todo mundo. Que acontece? Que a empresa capitalista também se deu conta disto, e os melhores portais de música som das suas empresas. Tenhem mui claro como vender produtos: dá-lhes igual que seja um pacote de tabaco que um grupo de música. E está sendo dificílimo lutar contra eles, em todos os frentes.

M. Wu: “Também há
gente que te deixa
de escuitar por
cantares em galego”

M.M.: No caso concreto da Música, está o ámbito supra, que move estes artistas para adolescentes, e depois está o ámbito mais de pequena empresa. Nesse campo mais pequeno, digamos da música alternativa, é mais singelo entrar. Mas para isto há que ter um mínimo de capacidade de influência, que normalmente vem dada polo dinheiro. E isto na Galiza nom existe. Também porque aos meios de comunicaçom nom lhes interessa nada que cheire a galego. Olha para bandas coma Manel ou Antònia Font, que se pugérom de número um nas listas do Estado e estám a vender uns dous mil discos, e se calhar editam numha discográfica para a que trabalham três pessoas. Isso seria possível na Galiza, mas o que acontece é que esse pequeno salto, de zero a dous, ainda nom se deu. Também é certo que ali -em Catalunha-, tenhem meios de comunicaçom afins.

M.W.: E tenhem um mercado interno que aqui nom temos.

D.S.O.: Sim, em todo o caso a normalizaçom do catalám em Catalunha nom tem nada a ver com o galego na Galiza, e a indústria cultural catalana leva-nos muitos anos de vantagem. Mas voltamos ao conceito “resistência”: os músicos galegos levam toda a vida a pôr sacos nas barricadas e o único que fazemos é escorar as defesas. A cultura e a língua é funcionalidade, isto está claro, daquela, para que um jovem veja funcional a sua língua, -para que opte por ela e nom por outra-, tem que ter uns referentes e uns meios, também de consumo. E há a quem lhe interessa cortar esses meios de consumo.

NGZ: Numha época que se vê bem complicada, como fazeis para dar concertos?

M.M.: Nós estamos pendentes do telefone, porque agora temos que chamar nós. Para apresentar o último disco pugemos-nos em contacto com várias salas e resposnderom bem, exceto na Sala Karma, onde nos dixérom “no programamos música en gallego porque no viene gente”. E esta afirmaçom, “nom programamos porque nom vem gente, ou nom vem gente porque nom programamos?, o que agacha é certa aversom à música em galego que se estende a outros setores.

M.W.: Nós ao começo defendíamos que cantávamos em galego porque nos saía, mas afinal resultou que só a nós nom nos importava. igual que há gente que te escuta por militáncia, ainda que as tuas cançons lhes pareçam terríveis, também há muita gente que te deixa de escutar, precisamente por isso, por cantares em galego. É curioso, mas preferem escutar Sigur Rós, que se lhes percebe bem mais...

D.S.O.: Volto ao mesmo: isto só o levanta umha política combinada, pública e privada. Mas eu nom vejo vontade de fazê-lo. Sempre houvo bons grupos em galego, mas som ignorados. E volto a dizer que é muito importante reforçar os laços com a lusofonia, mas nom só na música, também na literatura e o teatro. E em dupla direçom: também recebendo os produtos culturais que dali venham.


(*) Artigo originalmente publicado no nº 102 do Novas da Galiza (maio-junho de 2011 )

 

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