Recolha de toponímia, demonstraçom de identidade

«A funçom primordial da toponímia era localizadora, o nosso GPS imemorial que nom se pode perder»

Sexta, 05 Agosto 2011 06:36

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Xosé Lois Vilar (*) - Quando um meninho ou meninha nascia numha aldeia do nosso país tinha que aprender centenas de palavras da sua língua: carro, fento, lareira, casa, amor, leira…

Se o nascimento era à beira do mar, ao vocabulário próprio do complexo agropecuário que durante 6.000 anos foi esta terra havia que engadir verbas salgadas como argaço, maragota, ilha, gamela, chumbeiro… dum mundo marinheiro vigente com força nos últimos mil anos.

Tanto no agro como no mar aprendiam os signos dum código que é, sem dúvida, a mais elevada construçom do nosso património imaterial: a nossa fala; empregada para as relaçons humanas e com os animais e com o meio.

E com o meio tínhamos umha forma de relaçom especial, íntima, profunda, necessária. A interaçom intensa com as veigas, com o monte, com as pedras do mar, com o fundo invisível do mar já que do nosso meio era um elo imprescindível, respeitado, perfeitamente imbricado na cadeia vital. Por esta intensa relaçom mulheres e homens tivérom a necessidade de nomeá-lo, de encher de topónimos o mapa da memória coletiva: regueiros, lajes, veigas, caminhos, ilhotes, camboas, alhadas… porque a funçom primordial da toponímia era a de localizadora, o nosso GPS imemorial. Se mandavam o rapaz ou a rapariga diante com o carro de bois carregar tojo apanhado no dia anterior e lhe diziam vai à Meninha das Chans bem sabia que ponto concreto da serra era, ou se decidiram largar os tramalhos na Fanequeira de Melhoró a precisom da linguagem era total.

Os sistemas agrário, pecuário e marinheiro rachárom, as mudanças tecnológicas e económicas estám a provocar a desapariçom de centenas de milhares de topónimos, temos calculada a perda em mais de um milhom de nomes da nossa terra. Pensade numha meia de 100 topónimos/km2. No concelho de Oia Roberto Rodríguez recolheu 9.950 em 83 km2 e Iván Sestai mais de 800 só na ilha de Ons.

O governo da Junta acabou de despedir todos os técnicos do Projeto de Toponímia da Galiza. Mal ocupou Sam Caetano mandárom para casa os 17 moços e moças que estavam a recolher toponímia nos tempos do bipartido. A Universidade até agora nom concedeu à toponímia a importáncia que tem, e nom proliferam os trabalhos ou as teses sobre o tema. O Projeto Ronsel freárom-no. É a hora da cidadania. Das associaçons culturais, dos centros de ensino, das comunidades de montes, das equipas de normalizaçom lingüística, é a hora dos velhos, dos novos, da Universidade, dos concelhos. Nom podemos permitir que se perda a memória coletiva que nomeou a Terra com tanta intensidade devido à variada articulaçom orográfica, à divisom da terra, à ocupaçom continuada, ao diálogo contínuo com o nosso universo. Dixem atrás que a toponímia é localizadora e também designa, define e atua como o estrato arqueológico que sedimenta, oculta e conserva o passado. Trabalha como um palimpsesto em que ficam as pegadas da história.

Imos deixar que o nome do nosso mar se vaia debaixo da boina dos nossos marinheiros ou do pano da cabeça das nossas argaceiras e percebeiras e mariscadoras? Nom. No sul nom o estamos a permitir. O instituto de Estudos Minhoranos (IEM) continua a recolher toponímia. Finalizamos a paróquia de Saiáns (Vigo) onde a Xunta dera por fechada a recolha com 72 nomes. Nós 600. Recolheu-se Couso (Gondomar). O caso ainda mais grave com umha coleçom oficial de 70 nomes onde o IEM recolheu 1.200 tanto numha como noutra fregresia com a ajuda humana e material das comunidades de montes vicinais.

Continuamos a trabalhar e está-o a fazer a Área de Normalizaçom lingüística do Concelho de Vigo que com a Universidade de Vigo e o concelho de Ponte Vedra e o de Ourense organizamos charlas sobre toponímia e aginha um curso de extensom universitária para preparar técnicos de campo. Já se somárom mais comunidades de montes (Bembrive, Comesanha, Cabral, Tebra) e concelhos (Vigo, Ponte Vedra, Boiro, Tominho) e associaçons culturais (Trankallada de Tebra, Santa Cristina de Cobres, Souto Maior …), institutos (Návia de Suarna, Monfero). A sociedade está viva e nom imos permitir mais umha perda do nosso património, da nossa identidade.

 


(*) Artigo originalmente publicado no nº 100 do Novas da Galiza

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