Catarina Martins, do BE: «Queremos afirmar a importáncia do espaço galaico-português em Portugal»

«O respeito polos direitos de todas as naçons fai parte da própria identidade do Bloco de Esquerda, desde o seu nascimento»

Quinta, 31 Março 2011 00:00

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Eduardo Maragoto - Catarina Martins, deputada do Bloco de Esquerda (BE), viajou recentemente à Galiza para apoiar a pretensom do Bloco Nacionalista Galego (BNG) de fazer chegar o sinal das televisons portuguesas aquém Minho. Na questom das naçons sem Estado, o BE parece estar a quebrar umha tradiçom nom escrita da esquerda portuguesa, absolutamente hermética em relaçom a este assunto.

Eduardo Maragoto: Em que medida poderá ser relevante o apoio do BE para o sucesso de umha reivindicaçom histórica na Galiza?

Catarina Martins: O BE associa-se a esta iniciativa com umha proposta muito concreta: um projecto de resoluçom para que a Assembleia da República Portuguesa recomende ao Governo Português o desenvolvimento de iniciativas junto das autoridades da Galiza e do Estado espanhol no sentido de viabilizar o acesso à RTP na Galiza. Ou seja, que também deste lado da fronteira se afirme a importáncia do espaço do galaico-português. E essa uniom de esforços pode ser determinante.

EM: O BE representa, no Parlamento português, umha nova maneira de observar as naçons ibéricas sem Estado, rupturista em certo modo. Sempre houvo certo silêncio em relaçom a isso. Custa remar contra essa tradiçom?

CM: O respeito polos direitos de todas as naçons fai parte da própria identidade do Bloco de Esquerda, desde o seu nascimento. Essa é a linha que seguimos de forma coerente e convicta. Acreditamos que os direitos culturais som direitos humanos fundamentais e o nosso internacionalismo passa também, necessariamente, pola solidariedade com os movimentos ligados à autodeterminaçom dos povos de todas as naçons.

EM: A TVG é mui seguida no Norte de Portugal, especialmente no rural. Porém, já tenho ouvido pessoas preocupadas por a TVG ser um cavalo de Tróia espanhol... O medo a Espanha do lado português pode travar as relaçons galego-portuguesas?

CM: Nom tem sentido pensar a TVG como umha ameaça. Muito polo contrário, o facto de a TVG ser vista no Norte de Portugal só reforça os laços entre duas regions que som vizinhas na geografia e irmás na cultura. O que precisamos é que a RTP também seja vista na Galiza. Nom há razons para o medo da partilha dos espaços culturais e linguísticos comuns; quando há partilha todos saímos reforçados. E nom me parece que exista medo de Espanha no lado português; temos sim um Estado muito centralista que pensa as relaçons apenas no eixo Lisboa - Madrid, o que tem prejudicado o desenvolvimento das várias regions de Portugal, e muito especialmente da Regiom Norte. E por isso mesmo acreditamos que o estabelecimento de relaçons mais próximas entre Portugal e Galiza é um instrumento importante nom só de afirmaçom dum espaço cultural comum, mas também de desenvolvimento social e económico dos dous lados da fronteira.

EM: Na conferência de imprensa conjunta com Bieito Lobeira falaste de iniciar novas colaboraçons com a esquerda galega. Quais poderám ser?

CM: Para o Bloco de Esquerda a convergência de lutas com todas as esquerdas é sempre um caminho que valorizamos. A Europa está neste momento debaixo do fogo dos governos liberais que respondem à crise financeira e ao ataque especulativo sobre o Euro, nom com umha alteraçom do quadro que provocou a crise, mas com medidas de austeridade que aprofundam a crise, criam recessom económica e som origem de umha grande violência social. Neste quadro a convergência das esquerdas europeias é fundamental. E com a esquerda galega temos já umha relaçom importante; partilhamos umha mesma realidade sociocultural e geográfica e é natural essa colaboraçom.

Lembro, de iniciativas recentes, a nossa proposta de lei de criaçom de um Banco de Terras, inspirada numha iniciativa legislativa do BNG, e a colaboraçom que tivemos da esquerda galega na divulgaçom deste projecto em Portugal. Agora estamos juntos na luita para que a RTP chegue à Galiza, contribuindo para que se estreitem laços entre naçons irmás. E estou certa que, a cada momento, encontraremos novos espaços de colaboraçom.

 


(*) Entrevista originalmente publicada no nº 99 do Novas da Galiza

 

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