Manuel Cráneo: «A autoproduçom permite-nos controlar o processo e vender melhor o que fazemos»
Desenhador e ilustrador corunhês, assim como impulsor da Demo Editorial, que vai promover autores galegos
Segunda, 10 Janeiro 2011 08:18

Manuel Cráneo | Foto: Alberte Peiteavel
Antia Rodríguez (*) - O desenhador e ilustrador corunhês Manel Cráneo é umha das figuras ponteiras da banda desenhada galega. Desde a década de '90, em que participou no lançamento de numerosos fanzines até hoje a sua produçom criativa nom deixou de dar frutos.
Foi presidente da Associaçom Galega de Profissionais da Ilustraçom e formou parte do grupo implusor do Colectivo Chapapote em resposta à tragédia do Prestige. Foi premiado em múltiplas ocasions e deixou a sua pegada também no ámbito do desenho de cartazes, a publicidade ou o desenho de storyboards para filmes como O Lápis do Carpinteiro. Agora destaca polo lançamento de umha nova editora para publicar de maneira autónoma produçons em banda desenhada.
P: Como surgiu a ideia de ter editorial própria? Funciona no ámbito da BD a autoproduçom?
R: Demo Editorial surgiu quase de maneira improvisada ante a necessidade de levar urgentemente um projecto pessoal adiante sem ter as barreiras que se interponhem quando um tem que negociar um projecto próprio com umha editorial. Queria levar a cabo umha história em banda desenhada ambientada nas revoltas irmandinhas e fui dar com a Euromeume que decidiu participar do projecto e financiá-lo.
A autoproduçom é um mundo complexo porque um tem que cobrir diferentes funçons, mas paga a pena porque um controla o processo. Tem muitas outras vantagens como por exemplo no ámbito da promoçom. O melhor que pode vender o teu produto és tu mesmo. Demo é unha iniciativa pequena, mas com muitas ideias porque a falta de recursos económicos incrementa o nível de imaginaçom e isso permite que bastantes autores se acheguem a nós com projectos.
P: A sua primeira publicaçom, Os Lobos de Moeche, tivo muito êxito e depois decidiu editar dous trabalhos de autores nóveis. Nasce a editorial para tirar autores galegos do anonimato?
R: Os Lobos vam caminho dos 3.000 exemplares vendidos. Geralmente as ediçons de BD em galego rondam entre os 700 e os 1000 exemplares. Neste caso como havia financiaçom fíjo-se umha tiragem grande por excesso de fé no projecto. Tivemos sorte. Nom pensei que fosse ter tanta acolhida e graças a este êxito pudem pensar em dar umha continuidade ao projecto editorial.
Em principio vamos seguir na linha da novela gráfica de ambientaçom histórica, mas sem cair no didactismo. Como Os Lobos ou O Fillo da Furia. BD de autores Galegos em língua galega. Nom descartamos a ediçom em espanhol, interessa também exportar o que fazemos e dar a conhecer os nossos autores fora como no caso de Dani Montero, Prémio Castelao 2009, cujo álbum Sen Mirar Atrás sai com ediçom em ambas línguas.
Quanto à dificuldade de promocionar novos valores nom me assusta sempre e quando apresentem um bom projecto. Quando Tarantino rodou Reservoir Dogs nom o conhecia ninguém e já vês onde chegou.
P: A que crê que foi devida a boa acolhida de Os Lobos de Moeche?
R: Estou convencido de que há demasiada gente farta de que nos venham contar milongas os ianques. Está mui bem que de quando em vez nos contem Gladiator ou Braveheart, mas estou certo de que na Galiza temos heróis e anti-heróis de avondo que em muitos casos ainda permanecem quase no anonimato. Porque Furia de Titáns e nom Hércules contra Xerión?
É justo o exemplo de Mamed Casanova, bandoleiro de Ortigueira cuja vida é narrada na novela gráfica O Fillo da Furia ou Os Lobos de Moeche. Esforçamo-nos em contar umha e outra vez a lenda artúrica aos nossos filhos quando muitos nom sabem quem era Alonso de Lanzós. Umha das fórmulas para fazer que um álbum de BD em galego funcione numha parcela tam pequena de mercado é contar cousas que nom procurem destacar no mercado estatal, mas no mercado próprio que pretendemos criar os que estamos a editar BD em galego.
A literatura já leva tirando deste fio das histórias próprias muitas décadas e a banda desenhada até agora também, mas em geral contam-se estas cousas com carácter didáctico, que acabam aborrecendo. Há que dotar a história com matizes novelescos para fazê-la mais atractiva para o público geral. Suponho que Os Lobos funciona em parte por isso: apesar da ambientaçom histórica nom deixa de ser um livro de aventuras onde as personagens sentem, amam, odeiam e luitam.
P: Também foi presidente da AGPI. Quais som as carências do grémio? Falta de apoio institucional, de interesse das editoriais, do público?
R: O público da BD é cada vez mais adulto. Isto obsessionava muito há anos. Pensavam que para dignificá-la e que nom se qualificasse como “cousa de crianças” havia que captar mais público adulto. A dia de hoje estamos tendendo cara o contrário. As crianças estám mais pendentes de jogar com a PSP ou de descarregar música no mp3 que de ler banda desenhada.
Onde realmente temos o público infantil é no livro ilustrado. Agora há quantidade e qualidade, algo impensável há 15 ou 20 anos. Podemos dizer que somos um sector com numeroso público, mas com insuficiente nível de reconhecimento por parte da sociedade.
Quanto às carências que denota o sector som muitas, especialmente a complexidade que implica juntar forças entre a parte autorial e a editorial. Ainda hoje som muitos os editores que pedem que renuncies aos direitos. Continua-se a falar de autor fazendo referência só ao escritor.
Quanto ao apoio institucional, graças a ter o colectivo representado pola AGPI, hoje já temos voz no sector cultural e somos um pouco mais escuitados, mas ainda resta muito por fazer para que se nos considere como é devido. O positivo é que a associaçom aúna mais de 140 ilustradores na Galiza e supom unha plataforma que nos permite avançar cada vez mais forte e com passo firme para os nossos objectivos.
P: Xaquín Marín teima em defender o humor galego e lamenta a sua perda por parte dos novos criadores. Vê isto assim também?
R: Tenho-lhe muito apreço a Xaquín, a quem conheço desde há anos e considero umha das mais sólidas referências do humor gráfico galego, mas discrepo em que se esteja a perder a retranca. A BD, agora mesmo, move-se em quase tantas temáticas como autores há.
Sim que é certo que muitas estám afastadas do humor, mas é que nunca existiu umha escola de banda desenhada galega nem umha geraçom destacada que praticasse o nosso humor próprio salvando excepçons como a Quotidiania Delirante de Prado, por exemplo.
Falando em termos editoriais, o nosso humor sempre estivo recolhido no ámbito das vinhetas de prensa e na literatura sobretodo. Temos um nível muito alto de humoristas gráficos na Galiza (Leandro, Santy Gutiérrez, Pinto e Chinto e umha moreia mais) e temos também umha revista na Galiza que se chama A Retranca e que a maior parte do seu conteúdo é banda desenhada de humor. Eu penso que a retranca está longe de entrar em perigo de extinçom.
P: Em que outros projectos anda agora metido Manel Cráneo?
R: Estou a trabalhar em vários projectos ambientados em Planeta Mincha, um universo próprio mui particular que nom tem nada a ver a nível gráfico com Dammsmit ou Os Lobos de Moeche. Por um lado estou a desenhar Destino Hërgüss, um álbum de BD para público juvenil-adulto que recebeu umha ajuda à criaçom de BD da Conselharia de Cultura e que vai sair em 2011. Estou também com dous novos livros infantis da serie Diario de Pichük, editados por Everest. Serám a terceira e quarta entrega de umha série ambientada nesse mundo imaginário.
Já à margem disto, estou a escrever no meu tempo livre anotaçons para essa possível sequela de Os Lobos de Moeche e um guiom para outra novela gráfica sobre as aventuras de Benito Soto e a Burla Negra, neste caso vai-na desenhar Santy Gutiérrez que é um excelente desenhador o qual vai-me permitir exercer como guionista puro e duro. Tenho outros projectos em diferentes fases de produçom que vai tu saber quando saem ou mesmo se chegarám a sair. A mente vai mais rápido que a mao e tenho assumido que nom vou dar sacado à luz todas as ideias que rondam na minha cabeça.
(*) Reportagem publicada originalmente no n.º 95 do Novas da Galiza
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