“Brasil em Mente” leva a Língua Portuguesa aos EUA
A língua portuguesa e a cultura brasileira pertencem a muita gente, e não só aqueles que moram na mesma casa, ou que moram no Brasil
Quarta, 13 Novembro 2013 00:00

Espaço Brasil - O Espaço Brasil conversou com a Educadora Felicia Jennings-Winterle, que dirige o Projeto “Brasil em Mente”, em Nova Iorque, EUA. Formada em educação musical pela FASM, com mestrado em educação e cognição pela New York University, Felicia busca despertar nos brasileiros nascidos no exterior, a importância da Língua Portuguesa no desenvolvimento da identidade dos imigrantes e suas famílias.
O Brasil em Mente, com suas atividades promoveo resgate da língua portuguesa, entre as famílias multiculturais que residem fora do Brasil, oferecendo Programas em Português para crianças e adolescentes, Palestras, Workshops e bate-papos sobre a educação bilíngue e multicultural e mantém a Biblioteca Infantil Brasileira Patricia Almeida.
Espaço Brasil - Quando e como o "Brasil em Mente" começou? Existia uma equipe, uma turma, uma comunidade?
Felicia - A Brasil em Mente começou em 2009 junto ao projeto Brasileirinhos, uma iniciativa do Consulado de NY que promovia encontros gratuitos para que as crianças pudessem brincar e falar em português. O projeto era todo estruturado pelo consulado, mas era eu quem coordenava as aulas. Diversas famílias se inscreveram. Tinham dias que tínhamos 50 pessoas, em cada uma das duas sessões.
Espaço Brasil - Como foi a aceitação da comunidade brasileira no primeiro momento e como é a participação hoje?
Felicia - A aceitação foi muito boa. As pessoas pareciam sedentas de um local, um espaço, uma iniciativa que possibilitasse essa fala e essa brincadeira em português. Pareciam que precisavam umas das outras para dar estímulo e ânimo para falar contra a maré do inglês. Com o tempo, como tudo na vida, a presença foi diminuindo, mas foram se criando outros grupos, mais locais. Criou-se um grupo em LI, em Westchester (regiões de subúrbio da cidade), em NY, em CT (estados vizinhos) e três grupos na cidade de Nova Iorque. Estes grupos em Manhattan e no Brooklyn, e o de Westchester se reuniam toda semana, e passaran a ser pagos. Foi aí que nasceu a escola. De pequenos grupos espalhados, nasceu a escola Ciranda Cirandinhas. Depois, da necessidade de termos uma biblioteca e poder oferecer ainda mais recursos aos pais de brasileirinhos, mudamos para um local nosso com ainda mais possibilidades.
A escola e a biblioteca cresceram e não cabiam mais nesse nosso primeiro lugar. Assim, no mês passado mudamos para nossa nova casa. De 1 andar, passamos para 3, até com uma área externa e instalações ainda melhores.
Espaço Brasil - A embaixada brasileira ou consulado apoia a iniciativa?
Felicia - O consulado nos oferece um apoio institucional. Eles apreciam nossas iniciativas e programas e divulgam em meio à comunidade.
Espaço Brasil- Qual é a visão da população estadunidense sobre a Língua Portuguesa?
De maneira geral, a sociedade americana é monolíngue e louva o monolinguismo. Parece loucura, mas o americano tradicional mantém o pensamento do século passado de que o "bom americano" é aquele que fala inglês, que cultiva todos os costumes americanos, e só eles. Um pensamento que apareceu em meio as guerras mundiais. Mas, aos poucos isso vem mudando, até porque os EUA pretendem continuar a potência que são e estão percebendo que os donos do dinheiro falam outras línguas. Assim, o apreço pelo multilinguismo tem se espalhado e crescido.
O americano adora o Brasil e aos poucos está aprendendo a amar a cultura brasileira. Eu acredito que eles saibam identificar que quatro línguas dispontam como línguas do futuro e que merecem investimento: espanhol, mandarim, árabe e português.
Espaço Brasil - Explique aos leitores o documentário documentário "BraZil com S – a língua portuguesa no exterior"
Felicia - Bem, o documentário BraZil com S chegou no momento certo. Ele é mais voltado para a comunidade brasileira expatriada, mas poderia ser usado em meio a qualquer comunidade imigrante para demonstrar a importância da manutenção e resgate das línguas de herança. É porque a língua e a cultura que se traz na mala, no passaporte, no sotaque e no coração são herança de adultos e crianças.
O documentário é pioneiro no assunto e conta com a participação de pais, avós e professores. Entre eles, algumas personalidades como Bela Gil, a filha do cantor Gilberto Gil, Carlos Saldanha, o diretor do filme RIO, a escritora Ana Maria Machado e a dupla de cantores do grupo Palavra Cantada, Paulo Tatit e Sandra Peres.
Eles dão depoimentos em suas próprias palavras e de acordo com suas viências sobre a importância e necessidade de se manter uma língua tão rica como a nossa.
Espaço Brasil - Como manter acesa a herança da Língua Portuguesa nos "brasileirinhos" nascidos nos EUA?
Felicia - Tudo começa (e continua) em casa. Pais, mães, tios, tias, avós e primos - todos precisam estar envolvidos. É um processo muito global que vai do tipo de vestuário, comida, escolha de programas de TV, de livros, de passeios até a escolha da escola. Assim como a Brasil em Mente, existem diversas iniciativas que promovem e incentivam o português mas o nosso papel é só o de viabilizar espaços e oportunidades para que o que já foi começado e cultivado em casa continue, agora com mais crianças.
É preciso que pais e brasileirinhos se deem conta de que a língua portuguesa e a cultura brasileira pertencem a muita gente, e não só aqueles que moram na mesma casa, ou que moram no Brasil. Ao se associar a iniciativas como a Brasil em Mente e tantas outras, cria-se um senso de comunidade e de pertencimento. Fazemos parte de uma cultura mundial e falamos uma língua falada por 8 países em 4 continentes!
Espaço Brasil - E as outras manifestações da cultura brasileira como música, culinária, folclore e diversidade regional, como ensinar para os pequenos?
Felicia - Puxa... quanto tempo temos?
Tem muitas formas. Música na hora de acordar, comer, brincar, dormir. Culinária em todas as refeições e festinhas. Folclore em toda história, em cada aventura, em cada hora de fantasia e de terror. E sobre a diversidade, o ideal é conversar entre família e entre famílias. Ver fotos, conversar com os parentes via skype e visitar lugares novos no Brasil são apenas algumas ideias.
Espaço Brasil - O BEM mantém contato ou parceria com outras Associações ou Grupos de brasileiros e/ou portugueses de outros países?
Felicia - Claro. E queremos nos integrar cada vez mais. Criamos uma rede de contatos entre iniciativas que promovem e incentivam o português como língua de herança e trocamos figurinhas em um grupo no facebook. Além disso, todas elas estão cadastradas em nosso mapeamento Pelo Mundo (http://www.brasilemmente.org/pelo-mundo.html) e podem ser conhecidas em detalhes em nosso blog: www.brasileirinhos.wordpress.com
Serviço:
Brasil em Mente/ Ciranda Cirandinhas
Blog: www.brasileirinhos.wordpress.com
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