Óscar Lomba: «Pensei na necessidade de aproximar o nosso idioma à grafia histórica para facilitar a nossa relaçom com a comunidade lingüística lusófona»
«Os documentos oficiais do SERGAS nom os podo redigir em galego reintegrado, polo que nom podo viver plenamente em galego no meu posto de trabalho»
Sexta, 13 Setembro 2013 00:00

«Nalgumas ocasiões as pessoas que falamos e escrevemos habitualmente em língua galega, somos tachadas de independentistas e nacionalistas radicais»
PGL- Oscar Lomba é neo-falante, morou na Venezuela de criança e começou a utilizar habitualmente o galego-português na adolescência como conseqüência da sua amizade com pessoas que o falavam habitualmente. Licenciado em Direito Económico e diplomado em Magistério, atualmente trabalha na Gerência de Atençom Primária.
Trabalhas na Gerência de Atençom primária como pessoal de administraçom e serviços. Permite viver em galego?
Trabalhar na Gerência de Atençom Primaria permite-me falar galego ainda que nalgumas ocasiões as pessoas que falamos e escrevemos habitualmente em língua galega, especialmente se se trata de galego reintegrado, somos tachadas de independentistas e nacionalistas radicais. Os documentos oficiais do SERGAS nom os podo redigir como gostaria, isto é, em galego reintegrado, e polo tanto entendo que nom podo viver plenamente em galego no meu posto de trabalho. Ademais, tenho sérios problemas para expressar-me sempre em galego: há pessoas castelhano-falantes que solicitam em numerosas ocasiões que me dirija a elas em castelhano. Enfim... acho que há que mudar muitas coisas nas administrações públicas e na própria sociedade.
De criança moraste na Venezuela. És galego-falante de berço ou neo-falante?
Sou neo-falante. Morei em Venezuela e ali os meus pais nom empregavam o galego. Comecei a utilizar habitualmente o galego na adolescência e como conseqüência da minha amizade com pessoas que o falavam habitualmente.
Como foi recebido na tua rede social mais próxima (família, amizades, colegas de aulas...) o facto de falares galego aos 100%?
Ao princípio, com surpresa. Ninguém fez objeçom. De todas as formas, sim que notei certa estranheza nalguns amigos e amigas com os que sempre tinha conversado em castelhano. Com o passo do tempo sossegou-se o desconcerto e percebim uma absoluta normalidade na perceçom dos demais a respeito do meu uso habitual da língua galega.
Quando percebeste que o galego é uma língua extensa e útil?
Entrei em contato com o galego reintegrado pola minha relaçom com uma professora portuguesa de ensino secundário que me conduziu para a cultura lusófona. A partir daí descobrim todo um mundo de possibilidades para o galego. Pensei na necessidade de aproximar o nosso idioma à grafia histórica galego-portuguesa e facilitar assim a nossa relaçom com a comunidade lingüistica lusófona.
Em que se traduziu no teu dia-a-dia e na tua forma de ver as cousas?
O uso normalizado do galego traduziu-se numa rutura com a esquizofrenia lingüistica que sofria nos meus primeiros anos da adolescência. Refiro-me ao transtorno derivado de falar castelhano ou galego dependendo de com quem conversasse. Se falava com os meus familiares de Ventosela (a aldeia da minha mãe) ou a Guarda (a vila do meu pai) fazia-o em galego, mas se dialogava com outros familiares de Vigo ou com alguns professores e amigos, decantava-me polo castelhano. Essa esquizofrenia lingüistica terminou quando comecei a usar habitualmente o galego.
Como explicarias a alguma amizade que o galego é mais do que nos ensinaram no ensino formal na Galiza?
Se quigesse explicar a algumha amizade que o galego é bem mais do que a língua que se ensina no sistema educativo formal acho que lhes falaria das muitas razões polas que seria muito positivo recuperar a norma reintegrada e a grafia histórica, frente à norma oficial do ILG-RAG.
Explicaria que a meados do século XII, o galego era a língua comum de um reino, Galiza. Mais tarde, com a separaçom de Portugal e sua conversom como reino independente, o galego vai passar a ser a língua dos dous reinos. Este facto deu lugar a que os lingüistas se refiram a esse galego medieval com o nome de galego-português. Durante os séculos seguintes, XIII e XIV, o diferente devir histórico-político destes diferentes reinos vai ter grandes repercussões lingüisticas e culturais que acabaram por estandardizar e normalizar o galego-português falado ao sul do rio Minho, enquanto no norte nom houvo tanta sorte. Assim, enquanto o reino de Portugal se mantinha independente e era governado por reis que lhe conferiram ao galego-português o status de língua oficial da sua administraçom (1290), a coroa galega era usurpada por Fernando III de Castela.
Tentaria convencer a pessoa de que o galego-português, o galego de normativa reintegrada, propom que, ademais de seguir a beneficiar-nos das vantagens e fortalezas do idioma castelhano, podemos também abrir todas as possibilidades comunicativas, culturais e económicas... do mundo lusófono, fazendo do Galego uma língua internacional e com maior utilidade e projeçom. Isto é, às potencialidades do castelhano, os galegos poderíamos somar as potencialidades do português.
Na tua opiniom, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua socializaçom?
Seria muito positivo caminhar para a configuraçom e articulaçom de potentes instrumentos de difussom de massas (editoriais, imprensa, televisões e rádios, internet...).
Que visom tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associaçom?
Sempre tivem boa impressom da AGAL. Só pretendo contribuir à extensom do uso social do galego reintegrado. Esse é meu objetivo prioritário.
Como gostarias que fosse a “fotografia lingüística” da Galiza em 2020?
Encantaria-me que o galego recuperasse a posiçom de esplendor que teve no período das cantigas, mas fico conforme com que se estenda o uso normalizado de nosso idioma e que a normativa caminhe para uma maior aproximaçom com a grafia histórica reintegrada e aos acordos ortográficos adotados nos congressos internacionais da Língua Galego-Portuguesa.